Um belo texto escrito por um maçom, último grau, José Edmilson Amaro
Peixoto, que bem esclarece o que é verdadeiramente a Maçonaria. Teor de artigo
pertinente, publicado em junho de 2000, na revista maçônica “O Amanhã”, Supremo
Conselho do Brasil, Brasília – DF, nº 12, pgs. 11 e 12, que merece ser
reproduzido considerando os ditos e escritos nas redes sociais – na falta do
conhecimento (ignorância) e, especialmente, nas idolatrias e fanatismos – que tentam
fazer desacreditar à sociedade em geral a grande instituição milenar e
universal, satanizando-a despudoradamente sem nenhuma base na fundamentação da
verdade, por menor que seja. Nildo Lima
Santos
O Significado da Mensagem de Jesus Cristo
(?)
José
Edmilson Amaro Peixoto – 33
Pretencioso, certamente,
é o título do presente, haja vista que toneladas de papel, tinta e sangue já
foram utilizados e derramados em torno do entendimento da mensagem de Jesus
Cristo. Assim, não seria eu, que sequer me julgo no direito de designar-me de
maçom, vez que sabido é que “Nenhum ser tem o direito de chamar-se de maçom,
porque ser maçom é ser super-homem iluminado, que segue o caminho da verdade e
da virtude, fazendo delas carne de sua carne, sangue de seu sangue, vida de sua
vida. Esse é Jesus, o único homem iluminado, portanto, maçom dotado da
verdadeira humildade, a qual sabemos, é a virtude dos santos. Portanto, maçom.
Na qualidade de um
aprendiz-maçom e com a humildade do simples mortal, pedindo ao GADU que me ilumine, passo a considerar
que dois mil anos depois da vinda de Jesus à Terra, ainda vivemos os horrores
das guerras, da fome e dos conflitos raciais. A disseminação do amor universal
e da fraternidade continua sendo um desafio para a Maçonaria, bem como para a
humanidade.
Nesta era, cristã, ainda
é preciso saber se a passagem de tanto tempo deve ser motivo de glória e
comemoração, ou de vergonha e pesar: Glória, sim: porque são cerca de 20
séculos de uma religião voltada para o amor e a fraternidade universais. E
também vergonha, porque, já no segundo milênio de aprendizado, ainda vivemos em
meio a guerras sangrentas, massacres de inocentes, corrupção e falta de
fraternidade.
Estamos rodeados de
sinais de luz e sombra. Tudo o que há de melhor e de pior na alma humana parece
vir agora à superfície para o ajuste de contas. Nunca houve tanta sabedoria à
disposição do ser humano. Jamais se viu tanta maldade. O mundo todo é um só, e
a falta de diálogo é enorme. A história humana sempre viveu esse controle. Mas
agora a contradição está mais viva do que nunca.
Esse momento de transição
parece adequado para se examinar honestamente uma questão básica: Qual o significado da mensagem de Jesus
Cristo, para a humanidade e para cada um de nós? É um objeto de adoração,
uma figura divina que nós matamos na cruz, mas louvamos, para que perdoe nossa
maldade? Um deus personalizado a quem pedimos ajuda em momentos difíceis? Ou
Jesus é uma fonte real de aprendizado, um símbolo do centro de paz presente em
cada coração humano, e graças ao qual aprendemos a assumir total
responsabilidade por nossos atos e por nossas vidas? Ele é apenas um ídolo que
adoramos, ou um mestre divino com quem aprendemos a viver? E o que é o
ensinamento cristão: um dogma hipócrita ou um guia para a nossa conduta
prática? São perguntas que muitos ainda não conseguem responder.
Não basta examinar apenas
nossa conduta, é preciso reavaliar, também, quais são as nossas convicções e
nossas intenções mais secretas. A crença no Mestre e a descrença nos seus
ensinamentos é o estranho e fatal paradoxo que vem predominando ao longo da
história da cristandade.
Dois mil anos se passaram
e a seca no Nordeste brasileiro continua matando pessoas, enquanto os ricos
transferem dólares para contas secretas no exterior. Somos todos cristãos
sinceros, mas a violência nas grandes cidades aumenta e se transforma em
espetáculo grotesco usado nas telas de tevê.
Jesus, em João, 15,
disse: “Este é o meu mandamento: amem-se uns aos outros como eu os amei.
Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vocês são
meus amigos se praticam o que recomendo.” O
Mestre não quer adoração, pede apenas que pratiquemos o primeiro mandamento da
sabedoria eterna, que é a lei da fraternidade universal.
O princípio do amor universal
nos faz colher conforme o que plantamos. Quem planta injustiça colhe sofrimento.
Daí a importância de plantar a solidariedade para ser feliz. O plantio é livre.
A colheita é obrigatória. Na situação brasileira atual, a retribuição cármica
da injustiça social inclui a violência urbana e a própria degeneração das
elites. Mas o sofrimento dos justos também será recompensado.
A hipocrisia na cultura
brasileira tem a tendência de achar que somos bons e o mundo ao nosso redor é
mau. Mas se toda a população brasileira é boa, por que então há tanto sofrimento
no País? Na verdade, somos basicamente bons, mas nossas ações são
frequentemente más. Esse doloroso paradoxo foi descrito por são Paulo: “Não
faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero” (Romanos, 7.19). A
tarefa, então, é examinar melhor nossas ações – e as nossas reais motivações –
em todas as esferas da vida. A auto-observação honesta é nossa melhor defesa
para não cairmos nas areias movediças da hipocrisia.
Jesus denuncia os dogmas
e as burocracias religiosas da sua época e é perseguido por isso. Para ele, o
contato com o mundo divino se dá sobretudo no templo que é cada coração humano.
Na vida cristã, portanto,
o importante não são as discordâncias teológicas ou enquadramentos
institucionais, nem a preferência por esta ou aquela igreja, porque a prática é
o melhor critério para a verdade, e a árvore se conhece pelos frutos
(Mateus, 7:17-20).
A religião humana é
universal. Mas essa universalidade não é burocrática ou institucional. É
interior, essencial e não aparente. A sabedoria divina foi dando origem a
diferentes religiões, e a ignorância humana foi construindo dogmas e tecendo a
crença de que, se um instrutor estava certo, todos os outros deveriam estar
errados. Na verdade, todos os instrutores foram inspirados pela mesma fonte de
conhecimento divino, embora o nome dessa fonte possa mudar conforme a cultura,
o país, o idioma e as necessidades específicas de quem busca a verdade.
A civilização humana
volta a ser uma só, a economia passa a ser global e as religiões redescobrem o
diálogo, prepara-se à próxima redescoberta do fato óbvio de que uma só
sabedoria divina guia desde sempre os humanos, e que ela nos inspira não por
meio de uma única religião ou filosofia, mas por meio de todas, porque a
diversidade cultural é parte da nossa riqueza. E mais ainda: ela nos guia a
partir dos corações humanos, onde não cessa de brilhar (como a luz do Cristo),
apesar de todas as ilusões e da ignorância.
Por isso Jesus não disse,
em seu Sermão da Montanha, “bem-aventurados
os que acreditarem cegamente em mim”, mas sim, “bem-aventurados os que promovam
a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt., 5:9). A pratica da
fraternidade é o único alicerce firme sobre o qual se pode construir uma vida
individual, uma cidade ou um país: “Todo aquele que ouve as minhas palavras e
as põe em prática, será comparado a um homem sensato (...)”.
O Novo Testamento não
perde sua atualidade, mas se aplica sempre ao nosso presente e mostra as
possibilidades ilimitadas do nosso futuro. Além dele, o Velho Testamento. A
quem tem olhos para ver.
O grande desafio é
perceber que a verdadeira ressurreição de Cristo deve dar-se nos corações
humanos, e mostrar-se de modo prático por intermédio da regeneração espiritual,
social, econômica e ecológica do nosso processo civilizatório. Quando isso
ocorrer, teremos a necessária sabedoria para fazer o bem que queremos e não
fazer o mal que não queremos. E ficará claro, finalmente, que o
ensinamento de Jesus não nos foi transmitido em vão, mas frutificou a tempo.
Nota deste Blog: O Conselho
Editorial da Revista “O Amanhã”, pg.
1, em Nota de Rodapé, informa: “Os
artigos aqui publicados seguem as normas do Conselho Editorial, podendo ser
adaptados, condensados e editados, respeitando, porém, a liberdade de opinião,
a visão filosófica e o estilo dos autores.
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