sábado, 18 de julho de 2009

FILOSOFIA DE DESENVOLVIMENTO, O CAPITAL E SUA ESTRATÉGIA DE SUSTENTAÇÃO NO DOMÍNIO DO PODER (Artigo publicado em 1998 na Revista Fatos do Vale

*Nildo Lima Santos


Há mais de uma década que os estudiosos e planejadores do mundo todo sabem que o desenvolvimento medido através do crescimento dos índices econômicos, sem a preocupação do bem-estar-social coletivo dos homens, não mais deve ser usado. A filosofia de desenvolvimento tendo como princípio o crescimento da economia não mais prevalece, isoladamente, nas análises de crescimento e desenvolvimento de um País. A concentração de renda hoje, é um fator negativo, contrariamente à distribuição de renda que gera o bem-estar-social coletivo. Entretanto, para o capitalismo neo-liberal, aceitar passivamente estas verdades é aceitar o seu próprio fim, e o fim do seu domínio e dos privilégios conquistados há décadas através dos múltiplos artifícios.

Diante desta realidade, o Capital para não perder esta condição, através do seu poder de domínio, ameaçado pelas ações renovadoras e de transformação originárias da consciência crítica do País, formada por estudiosos, pesquisadores, universitários, técnicos da área de planejamento e políticos de esquerda, adere a este refrão ideológico traçando programas através dos órgãos governamentais com objetivos formalizados para as transformações que sabem ser necessárias para o desenvolvimento da sociedade. Tais programas, estrategicamente, absorvem a massa crítica do País (estudiosos, pesquisadores, professores, técnicos, etc.) transferindo a esta a responsabilidade e a esperança de todo um povo excluído que clama por transformações necessárias ao desenvolvimento de toda a sociedade.

Esta é a estratégia do capital que esconde suas verdadeiras garras e intenções. Pois, uma vez criados os programas e projetos através dos múltiplos organismos governamentais (BNDES, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, CODEVASF, SUDENE, Caixa Econômica Federal, SEBRAE, etc.), os ânimos são serenados e contidos não dando margem à sociedade para propiciar as verdadeiras mudanças através dos levantes de insatisfações gerais que seriam a derrocada do capital e do sistema político de domínio a seu serviço.

Tais programas e projetos têm como características não ultrapassarem a determinadas localidades ilhadas e espalhadas estrategicamente pelo território nacional, de forma pontual e que não atendem a universalidade dos problemas e demandas. É uma estratégia de controle usada com o engodo sobre a vaidade dos cientistas, estudiosos e pesquisadores atraídos e presos nos órgãos governamentais para a execução de projetos e programas que não irão a lugar algum por falta de condições que lhes são tiradas com a subtração destes dos recursos necessários à ampliação das ações que inevitavelmente se chegaria ao desenvolvimento humano através da democratização e socialização do capital.

Esta é a grande verdade que os que se sentem usados fazem questão de esconder, ou por vergonha, ou por desesperança, ou até mesmo porque passaram a vestir os mesmos ideais de domínio pela oportunidade de uma boa renda pessoal e/ou pela oportunidade do reconhecimento que o envaidece na difusão do seu trabalho como algo positivo, mesmo que não tenha tido a eficácia e o êxito originalmente predeterminado e necessário à efetiva transformação antes sonhada. De fato, os sonhos já não são os mesmos para um tipo de gente. Prevalece aí o egoísmo inerente a cada caçador de glórias em detrimento do esforço coletivo.

Está na hora de nós, técnicos, estudiosos, cientistas, pesquisadores e políticos, nos abrirmos às verdades para que possamos efetivamente viabilizar as grandes transformações necessárias ao País. E, só seremos capazes a esta mudança a partir do momento em que deixemos de ser ingênuos e de ser instrumentos de manobra para contenção da massa descontente que clama por mudanças e melhores dias.

A estes atores necessários às transformações fica aqui o meu grito de alerta.

*Nildo Lima Santos. Consultor em Administração Pública. Bel. Em Ciências Administrativas. Pós-Graduado em Políticas Públicas e Gestão de Serviços Sociais
.

Nenhum comentário: