segunda-feira, 2 de maio de 2016

Homenagem aos Mestres de Obras, através da homenagem ao meu avô











Nildo Lima Santos. Consultor em Administração Pública

Homenageio o meu avô através deste texto que, de certa forma, foi inspirado na leitura do brilhante texto de Claudio de Moura Castro. Desta forma, início informando sobre o meu avô:

AUSTRICLIANO DIAS DE SOUZA (Mestre Osteco). Pré-cursor da agricultura irrigada. Excelente mestre de obras na época que engenheiros eram raros. Reconhecido membro da sociedade Juazeirense. Mulato filho de pai negro e mãe de pele branca de olhos azuis. Com boas posses na Bahia e no Rio de Janeiro. Falecido na década de 60. Meu avô... bem sucedido, assim como foram bem sucedidos os seus filhos e netos: pardos, mulatos, brancos, com traços: indígenas, asiáticos, europeus e, africanos: Atesta, pela sua vida e, pela vida dos seus descendentes: "a grande idiotice das cotas raciais". Cotas que depreciam o ser humano como ser capaz e, o nivela aos de menor capacidade para vencer na vida. A idiotice que atrasa o desenvolvimento do ser humano, em todos os sentidos!

Rapidamente, explicando sobre a honrosa e valorosa profissão do meu avô Austricliano Dias de Souza, popularmente conhecido como Mestre Osteco, tomo como empréstimo excertos introdutórios do brilhante artigo escrito por Claudio de Moura Castro publicado na página 20 da revista Veja, Editora Abril, edição 2476 – ano 49 – nº 18, de 4 de maio de 2016, com o título: "PEDREIROS DE OUTRORA E DE HOJE", a seguir transcritos:
“Na Idade Média, em que pese a estagnação sufocante, havia uma área com altas tecnologias e glórias: a construção de catedrais. Por isso, os pedreiros eram uma categoria prestigiada e poderosa. Mas o caminho era árduo. Tomando um exemplo inglês, dos 6 aos 10 anos, o jovem estudava inglês e francês. Dos 10 aos 14, latim. Daí, até os 20 e tantos, aprendia a profissão, incluindo desenho geométrico. Se tudo desse certo, virava mestre, ao ser aprovada sua “obra-prima”, um modelo de excelência no ofício. E, pela lei, tinha uma inexpugnável reserva de mercado. Os outros carregavam pedras. 
Tão incensada era a profissão que gente importante começou a entrar para a sua guilda. Entraram tantos que sumiram os pedreiros. E a associação prosperou, tendo como membros nobres, intelectuais, políticos e presidentes. Curiosamente, manteve a denominação original: maçonaria (maçom é pedreiro em francês, inglês e português arcaico). [...]”.
Através deste pequeno texto e, conhecedor de registros da história do meu avô Mestre Osteco, com o qual convivi por quase toda a minha infância até a primeira adolescência, reconheço as verdades históricas no trecho do excelente artigo escrito por Claudio de Moura Castro. E, rememorando o meu tempo vivido com o meu avô, lembro-me que: mesmo sendo mestiço de origem europeia com africano – indivíduo alto, negro e esguio, com nariz adunco e cabelos negros e liso, lembrando ao Marechal Rondon, na aparência! –, era respeitadíssimo na cidade de Juazeiro da Bahia, não somente pelo rico patrimônio imobiliário e financeiro que possuía – o segundo bem menor, considerando que, o papel moeda era um tanto raro e, a prática no comércio era mais a do escambo (trocas) –, mas, pela boa conversa e, sabedoria e boa cultura adquirida na leitura e na prática e convivência social do mais alto nível da sociedade local. Era um homem evangélico, sendo um dos fundadores da Primeira Igreja Batista de Juazeiro, um dos fundadores da Loja Maçônica Harmonia e Amor, fundador e construtor do Clube dos Artífices Juazeirense e, próspero e brilhante construtor que espalhou sua arte pela cidade com belas e importantes construções de: residências com suas trabalhadas fachadas, equipamentos públicos – a exemplo o Coreto da Praça da Misericórdia –, palácios – a exemplo o Palácio do coronel Miguel Siqueira, hoje sede do Museu Regional do São Francisco. 

O Mestre Osteco, além de ter sido um brilhante Mestre de Obras, foi quem abriu caminho para a irrigação de sequeiro no Médio São Francisco, quando trouxe de navio do Rio de Janeiro, na década de 50, logo após a Segunda Guerra Mundial, via porto de Salvador – BA e, de lá até a cidade de Juazeiro - BA, via trem, pela Leste do Brasil, maquinários a vapor para instalar à margem do Riacho do Salitre, afluente da margem direita do Rio São Francisco, em sua fazenda, com o objetivo de dinamizar e diversificar a produção agrícola. Equipamentos estes que o possibilitou a irrigar o sequeiro ampliando a agricultura tradicional e, possibilitando o experimento do plantio de novas culturas, predominando a fruticultura que, ultrapassava a mais de 30 espécies. E, outras espécies nunca plantadas na região e que ele conseguiu cultivá-las em pequena escala a título de experimento, a exemplo do café, já que a uva foi plantada em larga escala, inclusive, para venda nos grandes mercados das capitais mais próximas. 

O maquinário trazido do Rio de Janeiro servia para: irrigar; mover o maquinário da usina de produção da rapadura, melaço e, derivados; fabricação de derivados da mandioca: farinha, tapioca, puba e beijus; e, geração de energia em geral para uso restrito da fazenda, caso fosse necessário, já que, por tradição o lampião não foi abandonado e, o expediente de trabalho não ultrapassava às 17 horas da tarde. 

Lembro-me ter convivido com missionários evangélicos americanos que vindos ao Brasil e, de passagem pela cidade tinham como de costume visita-lo para as boas conversas e, eu menino, só assuntando e, foi numa dessas que tentaram me levar para morar na Suiça, mas, a minha mãe não deixou. Diretores e gerentes de bancos, em especial, já nos anos 60, os do Banco do Nordeste que encantados às vezes sobrevoavam a fazenda de helicóptero pra ter noção da transformação da caatinga em uma imensa área verde e produtiva. Daí, da quase certeza de que a EMBRAPA e, vários projetos da SUDENE e Banco do Nordeste se inspiraram nos experimentos e audácia daquele Mestre de Obras reconhecido, respeitado e conhecido como Mestre Osteco. 

Revendo o acervo fotográfico de mais de cinquenta anos, da minha cidade Juazeiro, a Juazeiro que eu vivia e sonhava, através de suas belas fachadas e praças e, dos clássicos universais expostos e, ao meu alcance nas prateleiras das estantes da biblioteca do meu avô e do meu pai, que furtivamente lia-os e relia-os, me vêm as certezas do quanto importantes foram os Mestres de Obras e, agradeço destarte, à oportunidade da boa informação do excelente artigo de Cláudio de Moura Castro. 

FOTOS ANTIGAS DA MINHA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA, que retratam a arquitetura da época que, certamente, foram tocadas pelo meu avô Mestre Osteco e, que sentiram a invasão da minha visão e, dos meus sonhos contemplando-as, assim, como contemplo vez em quando, quando oportuno, a arquitetura da Europa com suas cidades antigas e deslumbrantes: Veneza, Siena, Roma, Firenze, Paris, Toledo, Versalhes, Londres, Cantbury, Delft, Haia, Burgos, Amsterdãn, etc. Vamos então, às Fotos de Juazeiro, propositalmente selecionadas dentre as que possuo em arquivos e, copiadas da internet:

Centro da cidade de Juazeiro - BA - Década de 50 - Imóveis antigos com suas belas fachadas que, certamente, teve alguns deles construídos pelo Mestre Osteco

Fachada principal do Palácio do coronel Miguel Siequeira (Museu Regional do São Francisco)

Destaque da fachada principal do Palácio do coronel Miguel Siequeira (Museu Regional do São Francisco)

Rua do centro de Juazeiro, à margem do Rio e, em destaque o cais que, teve o Mestrem Osteco como um dos construtores.

Entrada principal do Mercado Municipal de Juazeiro, o qual sofreu incêndio no final da década de 60, não mais existindo e virando uma praça.  

Movimento intenso no porto fluvial de Juazeiro e, em destaque, ao alto, as fachadas dos antigos prédios, hoje, sendo mandteidas preservadas algumas das fachadas, dentre as quais, a do prédio mais alto que aparece na foto. 

Plataforma de embarque da primeira Estação Ferroviária de Juazeiro - Hoje inexistente e que deu lugar a construção do viaduta para ligação à Ponte Presidente Dutra.

Fachada principal da primeira estação ferroviária da Leste do Brasil


Plataforma de embarque da estação ferroviária de Juazeiro - BA

Um dos ângulos da bela estação ferroviária de Juazeiro - BA


Fachada de prédio antigo da região


Praça da orla principal da cidade de Juazeiro, em destaques, a praça, o cais e, o vapor atracado no porto e, antes da construção da ponte sobre o Rio São Francisco de nome: Ponte Presidente Dutra

Praça Dr. José Inácio da Silva e, popularmente conhecida como Praça da Misericórdia: em destaques: o coreto e, fachadas de residências à esquerda, construídas pelo Mestre Osteco e, ao fundo a fachada da Santa Casa de Misericórdia. 

Popular Praça da Misericórdia totalmente inundada pelas águas do Rio São Francisco.

Praça com coreto à frente do Prédio da Prefeitura e Câmara Municipal. Praça que não mais existe para dar lugar a um colégio privado construído por um prefeito da época de nome Dr. Edson Ribeiro. Já se iniciava o predomínio do patrimonialismo.

Antiga e nova fachada do Prédio da Prefeitura e Câmara Municipal de Juazeiro. A criminosa descaracterização do prédio público.

Antigo cais de Juazeiro - BA, totalmente descaracterizado hoje. Mais um crime contra o patrimônio histórico da cidade.

Cais da orla antiga de Juazeiro - BA. Em destaque a ponte móvel, única no Brasil, que foi projetada pelo engenheiro que projetou a Torre Eiffel de Paris. Descaracterizada e, mais um crime cometido contra o patrimônio histórico da cidade.

Cais e orla antiga de Juazeiro - BA. A beleza do Rio São Francisco antes da construção da Ponte Prsidente dutra que liga Juazeiro - BA a Petrolina - PE.

Rua da orla da cidade de Juazeiro - BA, antes da construção da ponte e, depois da construção da ponte.


Inauguração da Santa Casa de Misericórdia de Juazeiro - BA e, em destaque a pose dos seus benfeitores, certamente, estando presente o Mestre Osteco.

Banda 1º de Maio de Juazeiro - BA e, seus membros fazendo pose na frente do Clube dos Artífices Juazeirenses - Clube que o Mestre Osteco foi um de seus fundadores.

Rua principal da orla e cais às margens do Rio São Francisco sem a existência da ponte Presidente Dutra e que deve ser.aproximadamente, do início da década de 50.

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