* Nildo Lima Santos
“De forma prática, o que devemos entender o que vem a ser e representar o
termo burocracia”.
Origem do termo (palavra),
significado e conceito
Burocracia, segundo Max Weber, economista alemão que criou
a Teoria da Burocracia, para
explicar a forma como as empresas se organizam, a definiu como sendo: “uma
organização baseada em regras e procedimentos regulares, onde cada indivíduo
possui sua especialidade, responsabilidade e divisão de tarefas.[1]
Entende-se, em resumo que a expressão
“Burocracia” é uma estrutura organizativa composta por
regras e procedimentos. [2]
A expressão Burocracia teve origem com a fusão do termo latino burrus
com o termo francês bure, que aglutinadas criaram a palavra “bureau” que era usada para definir um tipo de tecido escuro que era
utilizado para cobrir as escrivaninhas de repartições públicas. Vindo mais
tarde, o termo “bureau” passando a
ser utilizado para designar o escritório como um todo.[3]
O uso preciso da palavra “burocracia” foi utilizado pela
primeira vez por um ministro do século
XVIII chamado Jean-Claude Marie
Vincent, que fez o uso do termo em francês bureaucratie de maneira
crítica e debochada para se referir às repartições públicas. Jean-Claude criou
um neologismo recuperando a partícula latina burrus acrescentando a partícula
grega krátos para formar o novo termo significando o exercício do
poder por funcionários de escritórios. [4]
No século XVIII, o termo burocracia significava todas as repartições
públicas, na França e, também, o poder e ação dos funcionários nos escritórios
e em qualquer outro ambiente de trabalho. [5]
Entende-se, todavia, que o
significado do termo era restrito unicamente à visão da relação Estado e sociedade, destarte, sendo reconhecido
apenas a sua existência na administração pública. [6]
Mas, o significado de burocracia
evoluiu em conceito e assumiu a posição relativa ao predomínio desproporcionado
do aparelho administrativo no conjunto da vida pública ou dos negócios
privados. Passou, então, a ter significado amplo relacionado aos processos
administrativos e operacionais das organizações.[7]
Rigorosamente, nos atributos do termo
burocracia, utilizada na forma
positiva quando expressa o comando de ordenamentos de procedimentos e
processos, na condução dos fins a serem alcançados de forma racional e/ou
razoável, reconhece-se ser esta, além de necessária, positiva. Mas, quando utilizada
de forma depreciativa contra as organizações, em especial, contra o Estado,
excessivamente e ultrapassando o nível necessário, assim, então é efetivamente reconhecida
pela negação da racionalidade e da
razoabilidade e que expressa descaminhos procedimentais e/ou processuais;
portanto é a burocracia reconhecida
como negativa.
Significado da expressão
Burocracia na digressão histórica
Apesar do termo “burocracia” ter surgido no século
XVIII, há de ser reconhecido que o que representa o seu significado tem
origem quase simultânea ao surgimento das ações que, também, representam os
significados de trabalho e capital. Portanto, trabalho, capital e
burocracia, andam juntos desde os primórdios da organização dos seres humanos
em família, já nos tempos pré-históricos, conforme ilustro na ideia, pelos
seguintes raciocínios:
Admitamos que na época das cavernas
os nossos ancestrais, assim como outros animais, viviam em grupo e, cada grupo
formado por pessoas com diversos comportamentos e habilidades. Uns tinham
habilidades para a caça, alguns para a pesca e, outros para subir em árvores.
Mas, tais atividades implicavam em grandes riscos com a inevitável exposição ao
ataque das feras que habitavam o mesmo espaço e território. Portanto, para que
tais habilidades fossem de fato com sucesso, exigia-se muita coragem para
encarar aquele mundo hostil. Mas, tais atividades eram necessárias à própria
sobrevivência de quem as praticava, quanto à sobrevivência do grupo familiar em
geral. Uns dependendo dos outros.
Ao constatarmos que membros do grupo tinham
a tarefa de correr riscos em função dele e do grupo, tais tarefas, então,
considerando a necessidade de sobrevivência do grupo familiar de humanos, eram
de fato, trabalho de muito valor. Este reconhecido pelos produtos gerados da: caça,
pesca, colheita de ovos e frutos. Destarte, o valor era intrínseco a tais
produtos.
Os membros do grupo familiar que não
tinham a coragem como atributo, mas, tinham a capacidade de criação e do
trabalho artesanal e de atividades domésticas, ficavam seguros em ambientes da
caverna produzindo armas e demais artefatos e, cuidando do resto dos membros da
família que ficavam mais confinados – por questão de segurança – em um
território restrito e por eles já devidamente conhecido e familiar. Destarte,
os seus trabalhos, assim como os trabalhos dos caçadores, pescadores e
coletores de frutos e ovos, também, tinham valores. E, os produtos produzidos
por esses: lanças, tacapes, arcos, flechas, cestas, utensílios de cerâmica, e
outros, representavam valores.
Não há como negar que, o trabalho
naquela época e os produtos do mesmo serviam para a troca. Trabalho, produção,
valor e troca, ingredientes que inquestionavelmente representam o capital.
Destarte, como premissa, não existirá sociedade sem capital.
Admitamos, então, que a troca passou
a ser imperceptivelmente contratada por um consenso social, de um tipo de caça
para um tipo de armamento ou vários tipos de outros produtos, considerando,
destarte, as necessidades e a quantidade de esforços e dificuldades empreendidas
para a sua produção e, rigorosamente pela necessidade. Imperando, portanto, as
necessidades em alimentos e segurança.
O trabalho empreendido com essa
relação de troca de valores, primeiramente foi através da simples troca de
produtos, caça por lança e assim por diante e, em números que fossem possíveis
registrar no cérebro na visualização dos dedos das mãos – daí o surgimento do
sistema decimal. Os que produziam artefatos com maior duração do que a caça, tiveram,
portanto, a necessidade de fazer estoque do que lhes serviam para a base de
troca. E, ao estocarem, para que não se perdessem nas suas necessidades que
lhes exigiam maior tempo na produção, passaram a fazer algum tipo de comparação
que expressasse quantidade, sempre considerando os dedos das mãos, tanto para
se saber o que se faltava para as suas necessidades imediatas; como também, possivelmente,
bem depois, da quantificação das suas necessidades para a satisfação em um
tempo bem mais adiante e, portanto, maior. Daí o surgimento do planejamento e,
também, de controle efetivo. Destarte, sendo necessário a utilização de algo
que representasse números e que deveria ser um objeto incomum que seria, obviamente,
a representação da imagem da quantidade daquilo que se estocava.
Devem ter utilizado, a priori, determinados
tipos de pedras ou algum mineral incomum, que, eram contados um por um.
Exemplo: um veado, produto de caça, representava determinado número de lanças.
Por hipótese, duas lanças por um veado. Daí separava-se uma quantidade do
objeto que representava o outro objeto que era o veado e o guardava em lugar
seguro em um dos ambientes da caverna.
Com o planejamento e as necessidades
dos que nada possuíam e, em especial, os iniciantes, teriam que apelar para
aqueles que estocavam produtos no intuído de reservarem lanças e outros tipos
de objetos, como prevenções para a satisfação de necessidades futuras, as quais
serviam de base de troca pelos produtos da caça, da pesca, e da coleta de
frutos. Daí, ao disponibilizarem tais produtos com promessas de pagamentos
futuros, dos que nada tinham naquele momento, houve a necessidade dos registros
do que estava sendo disponibilizado antecipadamente com a promessa de pagamento
futuro, a fim de que fosse possível a cobrança do crédito concedido ao devedor.
Portanto é de se raciocinar que, para cada tipo de produto, já que não sabiam
contar, tinha um tipo de pedra, em tamanho e/ou formato.
Então, a pedra que representava determinado
produto para a base do negócio inerente à troca, tinha um valor e que esse deveria
traduzir o valor da troca para quem comprava e para quem vendia. Reconhecidamente
na representação do valor do trabalho de cada um, era efetivamente a soma dos
valores agregados e implícitos para determinado produto. Portanto, aquele que
vendia determinado produto, teria que separar em determinado lugar os objetos
(as pedras ou outro mineral raro) que representassem o valor da venda para o
controle essencial dos que estavam a lhe dever. O comprador deveria ser
representado, nos registros do credor, por alguma figura ou objeto que este
último (credor) criasse. Sendo a de cada devedor, diferente umas das outras.
Conclusão sobre a
origem efetiva da “burocracia”, reconhecida pelo conceito que representa o
sentido desta expressão
Reconhece-se, portanto, que na
produção de artefatos e nas atividades de caça, já existiam procedimentos, os
quais se relacionam às formas de produção pelo trabalho, registros –
representados pela quantidade de objetos que representavam determinado valor –
e, controle – representado pelas verificações dos registros nas deduções e somas
dos créditos inerentes à troca dos produtos. Portanto, os atos de entrada e
saída dos estoques, em si representam e se reconhece por processo. Processo que,
necessariamente, é dependente de ações humanas – portanto, fortemente dependentes
de comportamentos e vontades humanas –, reconhecidas estas como procedimentos.
Conclui-se, portanto, que assim como
o trabalho, capital, contrato social – conforme ilustra muito bem Russeau em sua obra “Do Contrato Social” –, e, burocracia no sentido amplo, são
inerentes ao ser humano desde a época das cavernas.
Burocracia que
é um dos termos inerentes às organizações, em qualquer sentido e forma de
organização, inclusive, a familiar no controle de suas ações e procedimentos na
condução de sua vida doméstica, arquivando contas de água, contas de energia,
contas telefônicas, alugueis, cartões de crédito, etc. Tanto a burocracia
doméstica (do lar) – em menor escala evidentemente! –, quanto a burocracia
existente de suas necessárias inter-relações com as organizações nas satisfações
mútuas de suas necessidades. As quais em excesso atrofiam o desenvolvimento da
organização familiar e da não familiar e, nas somas dessas organizações
familiares e não familiares, atrofia-se, por consequência, o desenvolvimento da
sociedade em geral. Onde perversamente são sugados partes importantes da força
do trabalho e suas representação como valores, considerando, os altos custos
gastos em atividades meios que passam a serem as mais privilegiadas por se
tornarem prioritárias, em detrimento das atividades fins que são menos
atendidas, destarte, em prejuízo gigantesco ao atendimento dos objetos principais
das necessidades humanas.
* Administrador de
Empresas. Consultor em Administração Pública. Consultor em Desenvolvimento
Organizacional.
[2]
Site: http://rae.fgv.br/rae/vol51-num5-2011-1/burocracia-como-organizaçao-poder-controle,
acessado em 18/09/2017.
[3] http://rae.fgv.br/rae/vol51-num5-2011-1/burocracia-como-organizaçao-poder-controle,
acessado em 18/09/2017.
[4] http://rae.fgv.br/rae/vol51-num5-2011-1/burocracia-como-organizaçao-poder-controle,
acessado em 18/09/2017.
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