terça-feira, 19 de setembro de 2017

ENTENDENDO O QUE É BUROCRACIA










* Nildo Lima Santos

“De forma prática, o que devemos entender o que vem a ser e representar o termo burocracia”. 


Origem do termo (palavra), significado e conceito

Burocracia, segundo Max Weber, economista alemão que criou a Teoria da Burocracia, para explicar a forma como as empresas se organizam, a definiu como sendo: “uma organização baseada em regras e procedimentos regulares, onde cada indivíduo possui sua especialidade, responsabilidade e divisão de tarefas.[1]

Entende-se, em resumo que a expressão “Burocracia” é uma estrutura organizativa composta por regras e procedimentos. [2]

A expressão Burocracia teve origem com a fusão do termo latino burrus com o termo francês bure, que aglutinadas criaram a palavra “bureau” que era usada para definir um tipo de tecido escuro que era utilizado para cobrir as escrivaninhas de repartições públicas. Vindo mais tarde, o termo “bureau” passando a ser utilizado para designar o escritório como um todo.[3]

O uso preciso da palavra “burocracia” foi utilizado pela primeira vez por um ministro do século XVIII chamado Jean-Claude Marie Vincent, que fez o uso do termo em francês bureaucratie de maneira crítica e debochada para se referir às repartições públicas. Jean-Claude criou um neologismo recuperando a partícula latina burrus acrescentando a partícula grega krátos para formar o novo termo significando o exercício do poder por funcionários de escritórios. [4]

No século XVIII, o termo burocracia significava todas as repartições públicas, na França e, também, o poder e ação dos funcionários nos escritórios e em qualquer outro ambiente de trabalho. [5]  

Entende-se, todavia, que o significado do termo era restrito unicamente à visão da relação Estado e sociedade, destarte, sendo reconhecido apenas a sua existência na administração pública. [6]   

Mas, o significado de burocracia evoluiu em conceito e assumiu a posição relativa ao predomínio desproporcionado do aparelho administrativo no conjunto da vida pública ou dos negócios privados. Passou, então, a ter significado amplo relacionado aos processos administrativos e operacionais das organizações.[7]

Rigorosamente, nos atributos do termo burocracia, utilizada na forma positiva quando expressa o comando de ordenamentos de procedimentos e processos, na condução dos fins a serem alcançados de forma racional e/ou razoável, reconhece-se ser esta, além de necessária, positiva. Mas, quando utilizada de forma depreciativa contra as organizações, em especial, contra o Estado, excessivamente e ultrapassando o nível necessário, assim, então é efetivamente reconhecida pela negação da racionalidade e da razoabilidade e que expressa descaminhos procedimentais e/ou processuais; portanto é a burocracia reconhecida como negativa.

Significado da expressão Burocracia na digressão histórica

Apesar do termo “burocracia” ter surgido no século XVIII, há de ser reconhecido que o que representa o seu significado tem origem quase simultânea ao surgimento das ações que, também, representam os significados de trabalho e capital. Portanto, trabalho, capital e burocracia, andam juntos desde os primórdios da organização dos seres humanos em família, já nos tempos pré-históricos, conforme ilustro na ideia, pelos seguintes raciocínios:

Admitamos que na época das cavernas os nossos ancestrais, assim como outros animais, viviam em grupo e, cada grupo formado por pessoas com diversos comportamentos e habilidades. Uns tinham habilidades para a caça, alguns para a pesca e, outros para subir em árvores. Mas, tais atividades implicavam em grandes riscos com a inevitável exposição ao ataque das feras que habitavam o mesmo espaço e território. Portanto, para que tais habilidades fossem de fato com sucesso, exigia-se muita coragem para encarar aquele mundo hostil. Mas, tais atividades eram necessárias à própria sobrevivência de quem as praticava, quanto à sobrevivência do grupo familiar em geral. Uns dependendo dos outros.

            Ao constatarmos que membros do grupo tinham a tarefa de correr riscos em função dele e do grupo, tais tarefas, então, considerando a necessidade de sobrevivência do grupo familiar de humanos, eram de fato, trabalho de muito valor. Este reconhecido pelos produtos gerados da: caça, pesca, colheita de ovos e frutos. Destarte, o valor era intrínseco a tais produtos.

Os membros do grupo familiar que não tinham a coragem como atributo, mas, tinham a capacidade de criação e do trabalho artesanal e de atividades domésticas, ficavam seguros em ambientes da caverna produzindo armas e demais artefatos e, cuidando do resto dos membros da família que ficavam mais confinados – por questão de segurança – em um território restrito e por eles já devidamente conhecido e familiar. Destarte, os seus trabalhos, assim como os trabalhos dos caçadores, pescadores e coletores de frutos e ovos, também, tinham valores. E, os produtos produzidos por esses: lanças, tacapes, arcos, flechas, cestas, utensílios de cerâmica, e outros, representavam valores.

Não há como negar que, o trabalho naquela época e os produtos do mesmo serviam para a troca. Trabalho, produção, valor e troca, ingredientes que inquestionavelmente representam o capital. Destarte, como premissa, não existirá sociedade sem capital.

Admitamos, então, que a troca passou a ser imperceptivelmente contratada por um consenso social, de um tipo de caça para um tipo de armamento ou vários tipos de outros produtos, considerando, destarte, as necessidades e a quantidade de esforços e dificuldades empreendidas para a sua produção e, rigorosamente pela necessidade. Imperando, portanto, as necessidades em alimentos e segurança.

O trabalho empreendido com essa relação de troca de valores, primeiramente foi através da simples troca de produtos, caça por lança e assim por diante e, em números que fossem possíveis registrar no cérebro na visualização dos dedos das mãos – daí o surgimento do sistema decimal. Os que produziam artefatos com maior duração do que a caça, tiveram, portanto, a necessidade de fazer estoque do que lhes serviam para a base de troca. E, ao estocarem, para que não se perdessem nas suas necessidades que lhes exigiam maior tempo na produção, passaram a fazer algum tipo de comparação que expressasse quantidade, sempre considerando os dedos das mãos, tanto para se saber o que se faltava para as suas necessidades imediatas; como também, possivelmente, bem depois, da quantificação das suas necessidades para a satisfação em um tempo bem mais adiante e, portanto, maior. Daí o surgimento do planejamento e, também, de controle efetivo. Destarte, sendo necessário a utilização de algo que representasse números e que deveria ser um objeto incomum que seria, obviamente, a representação da imagem da quantidade daquilo que se estocava.

Devem ter utilizado, a priori, determinados tipos de pedras ou algum mineral incomum, que, eram contados um por um. Exemplo: um veado, produto de caça, representava determinado número de lanças. Por hipótese, duas lanças por um veado. Daí separava-se uma quantidade do objeto que representava o outro objeto que era o veado e o guardava em lugar seguro em um dos ambientes da caverna.  

Com o planejamento e as necessidades dos que nada possuíam e, em especial, os iniciantes, teriam que apelar para aqueles que estocavam produtos no intuído de reservarem lanças e outros tipos de objetos, como prevenções para a satisfação de necessidades futuras, as quais serviam de base de troca pelos produtos da caça, da pesca, e da coleta de frutos. Daí, ao disponibilizarem tais produtos com promessas de pagamentos futuros, dos que nada tinham naquele momento, houve a necessidade dos registros do que estava sendo disponibilizado antecipadamente com a promessa de pagamento futuro, a fim de que fosse possível a cobrança do crédito concedido ao devedor. Portanto é de se raciocinar que, para cada tipo de produto, já que não sabiam contar, tinha um tipo de pedra, em tamanho e/ou formato.

Então, a pedra que representava determinado produto para a base do negócio inerente à troca, tinha um valor e que esse deveria traduzir o valor da troca para quem comprava e para quem vendia. Reconhecidamente na representação do valor do trabalho de cada um, era efetivamente a soma dos valores agregados e implícitos para determinado produto. Portanto, aquele que vendia determinado produto, teria que separar em determinado lugar os objetos (as pedras ou outro mineral raro) que representassem o valor da venda para o controle essencial dos que estavam a lhe dever. O comprador deveria ser representado, nos registros do credor, por alguma figura ou objeto que este último (credor) criasse. Sendo a de cada devedor, diferente umas das outras.

Conclusão sobre a origem efetiva da “burocracia”, reconhecida pelo conceito que representa o sentido desta expressão

Reconhece-se, portanto, que na produção de artefatos e nas atividades de caça, já existiam procedimentos, os quais se relacionam às formas de produção pelo trabalho, registros – representados pela quantidade de objetos que representavam determinado valor – e, controle – representado pelas verificações dos registros nas deduções e somas dos créditos inerentes à troca dos produtos. Portanto, os atos de entrada e saída dos estoques, em si representam e se reconhece por processo. Processo que, necessariamente, é dependente de ações humanas – portanto, fortemente dependentes de comportamentos e vontades humanas –, reconhecidas estas como procedimentos.

Conclui-se, portanto, que assim como o trabalho, capital, contrato social – conforme ilustra muito bem Russeau em sua obra “Do Contrato Social” –, e, burocracia no sentido amplo, são inerentes ao ser humano desde a época das cavernas. 

Burocracia que é um dos termos inerentes às organizações, em qualquer sentido e forma de organização, inclusive, a familiar no controle de suas ações e procedimentos na condução de sua vida doméstica, arquivando contas de água, contas de energia, contas telefônicas, alugueis, cartões de crédito, etc. Tanto a burocracia doméstica (do lar) – em menor escala evidentemente! –, quanto a burocracia existente de suas necessárias inter-relações com as organizações nas satisfações mútuas de suas necessidades. As quais em excesso atrofiam o desenvolvimento da organização familiar e da não familiar e, nas somas dessas organizações familiares e não familiares, atrofia-se, por consequência, o desenvolvimento da sociedade em geral. Onde perversamente são sugados partes importantes da força do trabalho e suas representação como valores, considerando, os altos custos gastos em atividades meios que passam a serem as mais privilegiadas por se tornarem prioritárias, em detrimento das atividades fins que são menos atendidas, destarte, em prejuízo gigantesco ao atendimento dos objetos principais das necessidades humanas.
        
 * Administrador de Empresas. Consultor em Administração Pública. Consultor em Desenvolvimento Organizacional.       

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