sábado, 12 de maio de 2018

A Casa de Farinha e o Imaginário de Thomas Morus









Em uma época em que rara era a moeda e a cédula que representavam valores no câmbio do capital, o valor capitalizado era a decência na troca de serviços e produtos que era representada no crédito entre as partes, com relação à qualidade do produto e serviço, na honestidade e compromisso entre as partes. “CASA DE FARINHA” escrito por Dário Dias de Souza, retrata muito bem uma época onde a solidariedade humana e a ética eram atributos considerados bens necessários para a boa convivência entre os indivíduos. Daí Thomas Moro, ou Thomas Morus, ter sido negado com o passar dos tempos, em suas utopias. Nildo Lima Santos  


Foto de Dário Dias de Souza e sua espôsa, autor do livro referenciado.

Excerto do livro de Dário Dias de Souza, nas pgs. 22 e 23 de sua obra “RIO SÃO FRANCISCO, RIO DE JANEIRO E OUTRAS REMINISCÊNCIAS”, dez de 1999:



                               CASA DE FARINHA


VOU-ME EMBORA!... VOU-ME EMBORA
PIABAÊ... PIABAA...
PORQUE DISSE QUE VOU...
PIABAA... PIABAÊ...


Cantando essa toada, os homens impulsionam a roda que faz girar o cevador onde as mulheres moem a mandioca.

Abordando a superfície plana do forno, circunferência de três metros de diâmetro, um homem com um rodo longo mexe a massa aquecida que vai transformando-se em farinha. Outras mulheres sentadas no chão, em círculo, raspam a mandioca.

Lá no fundo do cercado grita uma criança:
- Calu!... As galinhas estão pisando na tapioca!...
- Não faz mal, é prá vender! Responde a moça. O gracejo foi para animar o ambiente. Levanta-se Calu e vai cuidar de seu alguidar de tapioca. A desconcentração propicia o ar festivo nesta casa de farinha onde ninguém é assalariado.

Este grupamento social faz-nos pensar no país imaginário de THOMAS MORO “onde um poder bem organizado pode proporcionar ótimas condições de vida ao povo”. A letra da toada revela-nos grandeza moral, porque já disse que vou... Apoia-se no amor ao próprio.

Muitos jovens sem perspectiva largam-se no mundo; perdidos nos descaminhos, sem profissão nem escolaridade, serão fatalmente conduzidos ao “Capitólio” onde serão imolados ao deus dinheiro, única divindade a quem todos voluntariamente se entregam para o sacrifício.

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