Em uma época em que rara era a moeda e a cédula que representavam valores
no câmbio do capital, o valor capitalizado era a decência na troca de serviços
e produtos que era representada no crédito entre as partes, com relação à
qualidade do produto e serviço, na honestidade e compromisso entre as partes.
“CASA DE FARINHA” escrito por Dário Dias de Souza, retrata muito bem uma
época onde a solidariedade humana e a ética eram atributos considerados bens
necessários para a boa convivência entre os indivíduos. Daí Thomas Moro, ou
Thomas Morus, ter sido negado com o passar dos tempos, em suas utopias.
Nildo Lima Santos
Foto de Dário Dias de Souza e sua espôsa, autor do livro referenciado.
Excerto do livro de Dário Dias de Souza, nas pgs. 22 e 23 de sua
obra “RIO SÃO FRANCISCO, RIO DE JANEIRO E OUTRAS REMINISCÊNCIAS”, dez de 1999:
CASA DE FARINHA
VOU-ME EMBORA!... VOU-ME EMBORA
PIABAÊ... PIABAA...
PORQUE DISSE QUE VOU...
PIABAA... PIABAÊ...
Cantando essa toada, os homens impulsionam a roda que faz
girar o cevador onde as mulheres moem a mandioca.
Abordando a superfície plana do forno, circunferência de três
metros de diâmetro, um homem com um rodo longo mexe a massa aquecida que vai
transformando-se em farinha. Outras mulheres sentadas no chão, em círculo,
raspam a mandioca.
Lá no fundo do cercado grita uma criança:
- Calu!... As galinhas estão pisando na tapioca!...
- Não faz mal, é prá vender! Responde a moça. O gracejo foi
para animar o ambiente. Levanta-se Calu e vai cuidar de seu alguidar de
tapioca. A desconcentração propicia o ar festivo nesta casa de farinha onde
ninguém é assalariado.
Este grupamento social faz-nos pensar no país imaginário de
THOMAS MORO “onde um poder bem organizado pode proporcionar ótimas condições de
vida ao povo”. A letra da toada revela-nos grandeza moral, porque já disse que
vou... Apoia-se no amor ao próprio.
Muitos jovens sem perspectiva largam-se no mundo; perdidos
nos descaminhos, sem profissão nem escolaridade, serão fatalmente conduzidos ao
“Capitólio” onde serão imolados ao deus dinheiro, única divindade a quem todos
voluntariamente se entregam para o sacrifício.
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