quinta-feira, 3 de maio de 2018

BARQUEIRO











Uma homenagem do meu tio Dário Dias de Souza ao seu avô, meu bisavô André, pai de minha avó Etelvina, que casou com o meu avô Austricliano Dias de Souza (Mestre Osteco), quando tinha 13 anos de idade e ele 25 anos, de vida e já viúvo. Texto extraído do livro RIO SÃO FRANCISCO, RIO DE JANEIRO E OUTRAS REMINISCÊNCIAS”. Nildo Lima Santos

Foto de Dário Dias de Souza, in memorian, junto a sua espôsa na década de 40 para 50 no Rio de Janeiro.



Ipsis litteris, texto do autor Dário Dias de Souza, a seguir transcrito:


BARQUEIRO

Santana era uma rua muito larga, com tamarineiros centenários. Qualquer referência àquele logradouro era Rua de Cima ou Rua de Baixo (numa alusão ao rio). Morava na Rua de Cima o barqueiro André (Pai Dedé, para os netos). Nova Santana era a sua barca, não era uma barcona como as outras, tinha cabeça de cavalo como carranca, e o que qualquer barca não podia deixar de ter: o búzio de flandre em bom tamanho. Este instrumento de sopro era usado pelos remeiros para anunciar a chegada àqueles lugares onde convinha encostar.

Como nada é estável, um dia desfez-se o encanto da “Nova Santana”. Por sua idade avançada, Pai Dedé vendeu a barquinha; no entanto, sendo ele profundo conhecedor dos meandros do rio, ainda continuou prestando serviço, ocasionalmente a outros barqueiros. Em uma destas pilotagens rio acima lá nos confins do Rio Preto, o velho timoneiro desentendeu-se com o Grã Senhor dono da barca. Andrezinho não fez por menos, acertou as contas com o bacano, montou uma balsa de buriti e navegou rio abaixo. O percurso até Santana durou alguns dias, ele contava que as vezes durante a noite acordava com a balsa enganchada nos angaris.

Anos depois, recostado em sua rede de caroá, cercado pelos netos, um vovô sui generis externava suas convicções sobre o que convinha aos netos; parecia um tanto preocupado com a varonilidade dos meninos, pois ao passar naquele momento uma beldade de mais ou menos quinze anos, disse: que peixão!... Estão vendo? Olhem as pernas dela como são bem torneadas. Vejam o andar faceiro! A gente precisa dar valor ao que é bonito.

Na verdade, as crianças não observavam certos detalhes, com o tempo, naturalmente vão vendo o que é importante no sexo oposto; no entanto, talvez haja casos em que os educadores devam interferir. O Pai Dedé, naquele instante foi um orientador educacional. Foi válida a peculiaridade no desvelo aos netinhos.

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