Uma homenagem do meu tio Dário Dias de Souza ao seu avô, meu bisavô
André, pai de minha avó Etelvina, que casou com o meu avô Austricliano Dias de
Souza (Mestre Osteco), quando tinha 13 anos de idade e ele 25 anos, de vida e
já viúvo. Texto extraído do livro RIO
SÃO FRANCISCO, RIO DE JANEIRO E OUTRAS REMINISCÊNCIAS”. Nildo Lima Santos
Foto de Dário Dias de Souza, in memorian, junto a sua espôsa na década de 40 para 50 no Rio de Janeiro.
Ipsis
litteris, texto do autor Dário Dias de Souza, a seguir transcrito:
BARQUEIRO
Santana era uma rua muito
larga, com tamarineiros centenários. Qualquer referência àquele logradouro era
Rua de Cima ou Rua de Baixo (numa alusão ao rio). Morava na Rua de Cima o
barqueiro André (Pai Dedé, para os netos). Nova Santana era a sua barca, não
era uma barcona como as outras, tinha cabeça de cavalo como carranca, e o que
qualquer barca não podia deixar de ter: o búzio de flandre em bom tamanho. Este
instrumento de sopro era usado pelos remeiros para anunciar a chegada àqueles
lugares onde convinha encostar.
Como nada é estável, um
dia desfez-se o encanto da “Nova Santana”. Por sua idade avançada, Pai Dedé
vendeu a barquinha; no entanto, sendo ele profundo conhecedor dos meandros do
rio, ainda continuou prestando serviço, ocasionalmente a outros barqueiros. Em
uma destas pilotagens rio acima lá nos confins do Rio Preto, o velho timoneiro
desentendeu-se com o Grã Senhor dono da barca. Andrezinho não fez por menos,
acertou as contas com o bacano, montou uma balsa de buriti e navegou rio
abaixo. O percurso até Santana durou alguns dias, ele contava que as vezes durante
a noite acordava com a balsa enganchada nos angaris.
Anos depois, recostado em
sua rede de caroá, cercado pelos netos, um vovô sui generis externava suas
convicções sobre o que convinha aos netos; parecia um tanto preocupado com a
varonilidade dos meninos, pois ao passar naquele momento uma beldade de mais ou
menos quinze anos, disse: que peixão!... Estão vendo? Olhem as pernas dela como
são bem torneadas. Vejam o andar faceiro! A gente precisa dar valor ao que é
bonito.
Na verdade, as crianças não observavam certos
detalhes, com o tempo, naturalmente vão vendo o que é importante no sexo
oposto; no entanto, talvez haja casos em que os educadores devam interferir. O
Pai Dedé, naquele instante foi um orientador educacional. Foi válida a
peculiaridade no desvelo aos netinhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário