quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Politização da gestão pública. Resultado: péssimos serviços públicos e corrupção generalizada



Nildo Lima Santos. Consultor em Administração Pública 

A gestão pública para que, de fato, possa funcionar a bem do desenvolvimento do Estado e da sociedade na soma dos seus cidadãos a eles destinando, indistintamente, serviços de qualidade e quantidade em função das demandas locais e regionais que guardem coerência com as próprias demandas de cada indivíduo, na multiplicidade de seus sonhos e anseios – como pressuposto básico observando a liberdade que cada ser humano tem para consigo e para com o próximo, nos limites da lei – deverá funcionar o mais possível desatrelada dos partidos políticos. Portanto, os partidos políticos devem, apenas, servir para traçar as grandes diretrizes da administração pública, embasadas nos sonhos e anseios da maioria da sociedade, democraticamente legitimados e traduzidos pela soma dos sonhos e anseios de cada indivíduo, manifestado pelo seu voto na aprovação das diretrizes que possam estabelecer as metas governamentais que indicarão à administração pública o estabelecimento de procedimentos para a gestão pública. Destarte, o vínculo da gestão pública com a política usurpa violentamente o pensamento e querer coletivo sintetizado nas propostas de cada corrente política validadas pelas urnas que legalizam e legitimam o embate político para que uns se imponham sobre os outros sem a necessária satisfação, ao máximo ao consciente coletivo traduzido nas ideias políticas pelos seus anseios. Destarte, o citado vínculo da política com a gestão pública deveria ser apenas no âmbito das discussões das diretrizes e na fiscalização da gestão pública, quanto ao fiel cumprimento das determinações e orientações de tais diretrizes. Observadas essas regras, a gestão pública tornar-se-á: mais ágil, eficiente e, distante dos vícios que o sistema político ora impõe aos Estados, ainda, não desenvolvidos e que insistem em levar para a gestão pública as inevitáveis discussões e decisões políticas que deveriam se dá em seu ambiente próprio e, onde não seja possível descê-las até às estruturas institucionais da administração pública com a responsabilidade de gerir a coisa pública.  Portanto, limitando-se apenas ao estabelecimento de direções dadas pela interpretação das ideias de sociedade e Estado acordadas pela maioria nos fóruns competentes para os embates políticos que, institucionalmente, deveriam residir nas Casas Legislativas e, nos conselhos de políticas públicas; nestes últimos, desde que abrigadas e referendadas pelas respectivas Casas Legislativas de cada ente federado.

Ficariam, então, os gestores públicos maiores (Presidente da República, Governadores de Estado e do Distrito Federal e, os Prefeitos Municipais) com maior autonomia para dispor dos instrumentos de gestão que melhor se adequassem à administração pública no cumprimento das diretrizes nacionais que são, verdadeiramente, os maiores instrumentos políticos de uma Nação. Eliminar-se-ia, destarte, as possibilidades do empreguismo e, se adotaria o sistema da meritocracia, admitindo-se, tão somente, os de vínculo político partidário, nos cargos de direção da estrutura do Estado, os Ministros de Estado e, equivalentes nos Estados membros e Municípios, sendo desta forma, os demais cargos destinados a técnicos sem qualquer indicação política partidária. E, mesmo, em se tratando da escolha de político, que a escolha fosse tão somente pelo mérito das qualidades como profissional, priorizando no processo de escolha a dos agentes, servidores públicos de carreira, assim como está definido pela Constituição Federal em seu artigo 37, V; e, jamais por compromisso político. Daí o Estado e a Administração Pública funcionariam como funciona um avião ou um navio que são entregues aos respectivos comandantes. Subordinando-se estes, tão somente, a direções planejadas atendendo a uma série de políticas setoriais da empresa que devem levar em consideração variáveis de gestão e de operações complexas que, são finalmente transferidas e ordenadas ao comandante, escolhido pela sua aptidão e formação, que voe ou que zarpe para o destino planejado no cumprimento de metas de embarque e desembarque de passageiros de forma segura e, em um prazo determinado. Este é um bom exemplo para se ter a certeza de que se a política interferir para a escolha do comando o risco é iminente e, o avião ou o navio terão grande probabilidade de não chegarem ao destino. Portanto, o risco de desastre é imenso se, o comandante na condução da nave se sujeitar a políticas internas dos seus subordinados comissariados, deixando, portanto, de observar e de cumprir as regras gerais traçadas pelas políticas setoriais da empresa. Da mesma forma é o Estado, que não separa a política partidária da gestão pública e das funções primordiais da Administração Pública, daí, o desastre é certo e iminente e, a corrupção é uma praga inevitável no salve-se quem puder. Pois, são os interesses corporativistas de classes e categorias, protagonizados pela multiplicidade de partidos políticos e, de indivíduos, isoladamente, que somente conseguem enxergar a política e, a administração pública como a necessária porta-aberta para a riqueza mais fácil no atendimento aos sonhos e, desejos de uma minoria legitimada pelo voto da maioria que não vê as suas ideias de vida e de desenvolvimento serem minimamente atendidas, em razão de não existirem as oportunidades ou serem estas raras, monopolizadas e disputadas pelas espertezas e malandragens que corrompem o indivíduo que não mais se sente como cidadão de direitos; pois, dadas as situações impostas no sistema de domínio do Estado, pela minoria, este se barbariza pela lógica de valores inversos da ideia de democracia e de solidariedade humana e, infelizmente, do Estado. Este, por fim, ao invés de ser a solução, ou o provedor de soluções, é um inimigo sempre presente a ser batido ou a ser conquistado para que os anseios individualistas de cada eleitor e não eleitor – mesmo sem a segurança da sustentabilidade – traduzidos por suas demandas, altamente distorcidas pela inversão da escala de valores –  portanto, já com alto grau de insensibilidade e de aceitação da corrupção como meio de conquistas – que se agigantam no rumo às hostes dos Poderes do Estado cada vez mais legitimando os desmandos e a corrupção desenfreada que deteriora a sociedade humana e condena a Nação ao subdesenvolvimento e comportamentos de barbárie vulnerando-a, consequentemente, em sua soberania.

Em uma radiografia sem a necessidade do aprofundamento, detectamos que o Estado Brasileiro tem todos esses ingredientes nefastos que o condenam a amargar crises profundas com o império das barbaridades e da institucionalização dos meios e métodos de corrupção, por serem os mais viáveis para a satisfação das demandas da sociedade traduzida pelas necessidades individuais desde as básicas de sobrevivência, até as mais complexas e/ou nobres de auto-realização. Corrompem-se, destarte, os que dependem das necessidades mais primárias – com bolsa isso, bolsa aquilo, cotas disto cotas daquilo – e, os que anseiam por melhor qualidade de vida que não mais se resumem nas necessidades primárias – o que é pior –, pois, já não mais se opera a crítica com medo ou precaução para que não seja alijado do processo de um sistema imposto pelo Estado deteriorado. Para a auto-realização há o contentamento em “ter” e, não mais em “ser” e, aqueles que ainda, admitem no “ser” como virtude para a sonhada auto-realização, admitem-na de forma distorcida, já que o “ser” se transforma, também, em “ser oportunista” no aproveitamento das oportunidades que o sistema lhe oferece, seja na ocupação de cargos públicos (reitorias universitárias, diretorias de institutos de pesquisas, presidente da nação, governadores de estados, deputados, senadores, vereadores, ministros – inclusive dos tribunais superiores – prefeitos, juízes, procuradores, promotores, secretários, etc.) ou, na direção de instituições privadas (sindicatos – os mais envolvidos com a corrupção, em razão da prática do oportunismo nas disputas internas – fundações, associações comunitárias, OAB, clubes de serviços, etc.) e, ainda – o que não é menos grave –, na oportunidade de mercado nas negociatas e negociações oportunizadas pelos entes públicos aos empresários que, em contra-partida, se cumpliciam para a manutenção do satatus-quo, incluindo a imprensa que deixa de ser livre e passa a ser esbulho do Poder Dominante.    
Acredito que, por tradição, os membros do Estado Maior das Forças Armadas, tenham essa concepção, dada a lógica de estratégias de defesas do Estado e da Soberania. É o mínimo que se espera, para a salvaguarda dos interesses coletivos e da sociedade brasileira que amarga profundos retrocessos e deterioração na auto-degradação da sociedade imposta pelo Poder Dominante. E, por saber, que assim, como o avião e o navio, não sofrerão descaminhos por falta de comando, jamais deixarão que o desastre ronde às portas destas instituições que sabidamente, dado o seu histórico, nunca misturam e, jamais misturarão política com gestão pública, mesmo que seja nos limites das próprias corporações militares. E, esta é uma boa escola a ser observada pelos acadêmicos e, principalmente pelos graduados e graduandos em administração de empresas, gestão pública, contabilidade e economia.          


                      

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