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domingo, 29 de janeiro de 2017

Registros em poesia. Parte da memória de um tempo





CANÇÃO DO ABANDONO

Lima Bahia

Após um frustrado amor
Ainda em mim fremente,
Vejam só o que restou:
Um lar desfeito de repente...

Uma criança algum dia descontente
E talvez... a me culpar,
Por eu não ter regado nascido semente
De um amor vulgar.

O amor em mim fremente e adúltero
Foi por demais inconseqüente.
Nem mesmo dela cheguei ao útero
Mas a amo eternamente.

E, na sombra dos meus dias,
Passo na rua dos amargurados
Envolto em mil fantasias
E compro sexo por trocados.

Satisfaço-me e saio enojado...
Tudo ao revés dos sonhos meus,
Quando por um beijo era encorajado
E vivia como muitos Romeus.

Ela a Julieta da sacada
Esperava um orgasmo de paixão
Para de mim fosse apossada
Com toda força do coração.

Na sacada não consegui subir.
- Mesmo com as forças da razão,
Vi então Maria de mim partir
Sem o orgasmo da traição.

E agora, quando passo por sua janela
Sempre cerrada para o amor:
- Vejo-a aberta e sempre dela...
E para o meu peito em dor.

Quando passo na rua da amargura
Compro sexo e coxas nuas.
Aí, entre conhaques, me vem a loucura
Por nunca ter visto coxas suas.

Mesmo assim: as acariciei
Nos mais sublimes pensamentos
Em que também as beijei
Em dispersos momentos.

Quando olho para a lua,
Envolta em véus e sonhos,
Lembro-me que ela é sua
E dos meus passos tristonhos.

Dei-lhe a lua como guia
Para brilhar e inspirar suas noites,
E a tenho como vigia...
A iluminar meus passos em açoites:

Desvirginando as noites das calçadas
Em minha inconsolável solidão...
Acompanhado de almas penadas:
Parceiras da imensidão.

Dei-lhe a minha desgraça
Como paga das boas horas...
- que pensei fossem de graça!...
... Passadas nas cinzas das horas.

Dei-lhe meus sonhos...
E minhas noites não dormidas!
Hoje!... os dias futuros medonhos:
Serão pagas de muitas vidas.

Brasília/82




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